segunda-feira, 8 de junho de 2020

Memórias literárias: Lembranças do meu tempo de menino.

Se não me falha as lembranças, eu tinha uns cincos ou seis anos de idade, mas lembro-me muito bem do vilarejo em que nasci. Paraguaçu devia ter umas trinta pessoas, lugarzinho simples, de chão de terra batida, uma casinha aqui, outra acolá, tenho muitas saudades daquele tempo.

Lembro como se fosse hoje, meus avós ensinavam meus irmãos e eu a ler e escrever. A gente aprendia os números, fazer conta de cabeça, o “abc”, o nosso nome e todo dia antes de dormir, tínhamos que fazer a leitura da cartinha, lembro-me até hoje da história da cegonha.

Naquele tempo escola era muito difícil, só quem estudava era quem morava no comércio e tinha dinheiro para pagar. Lá em casa, os poucos contos de réis que a gente conseguia com muita labuta eram para botar o “de comer” dentro de casa. Minha leitura era pouca, mas o pouco que eu aprendi serviu muito.

Quando eu completei doze anos de idade, já ajudava meu pai e minha mãe na roça. Buscava lenha para cozinhar a comida, preparava a terra para plantar feijão, mandioca, milho e café, com um arado de burro, trabalhava de enxada, ajudava a raspar e a ralar a mandioca para fazer farinha, mudava o gado de uma manga para outra e prendia no curral no final do dia. Os bezerros tinham que ficar longe das vacas, para a gente poder tirar o leite no outro dia cedo, senão eles mamavam todo o leite e não ficava nada para a gente.

No dia de fazer farinha era muito divertido. Minha mãe acordava cedo para preparar a farofa e meu pai arreava os animais para transportar a mandioca da roça até a casa de farinha. Era muito engraçado, eu e minha irmã íamos de um lado da carga e meus outros dois irmãos do outro, dentro das bruacas.

Chegando à roça, a gente ajudava a colocar a carga de mandioca nos animais e íamos em “cavalos de pau” para a casa de farinha, montávamos em pedaços de paus iguais aos cabos de vassoura e saíamos correndo, brincando de cavalgar.

Na casa de farinha, eu e meu irmão mais velho ajudávamos os nossos pais a raspar a mandioca, tirando a casca mais grossa, depois meu pai e meu irmão faziam girar uma roda que girava o ralador, eu transportava a mandioca já limpa para próximo e minha mãe colocava no ralador, depois tudo ia para uma prensa e escorria uma água que minha mãe armazenava numa bacia para assentar a tapioca no fundo.

A massa crua era sessada numa peneira de palha trançada, depois ia para o forno e meu pai mexia de um lado para o outro até ficar seca, torrada e já estava pronta a farinha. Quando a tapioca se assentava, minha mãe sessava e fazia beiju, a gente comia com manteiga de garrafa, era muito gostoso.

Meu irmão mais novo pegava uns gravetos, espetava em pedaços de mandioca e dizia que eram bois e minha irmã fazia umas bonecas com pedaços de molambo e ficavam os dois brincando no terreiro. Antigamente, a vida da gente era simples, não tínhamos roupa boa ou brinquedos de loja, mas com o pouco que tínhamos a gente era muito feliz. Que saudades de quando eu era novo!


SILVA. Geisa Barbosa. Memórias literárias: Lembranças do meu tempo de menino. Produção orientada pelo professor Euler Jackson Jardim dos Santos em agosto de 2019 na EMAM – Escola Municipal Auto Medrado. Povoado de Capão da Volta, Ibicoara-BA. Disponível em: https://prosasobreversos.blogspot.com/


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