Numa manhã normal como as demais,
estava eu deitado em minha cama sem pressa alguma para levantar, pois estava de
férias escolares. Tomei meu café da manhã como de costume e sai para brincar,
única atividade que me interessava no momento. Não sou muito fã de assistir
televisão, então preferi sentir a brisa da natureza soprar sobre o meu rosto.
Passei a maior parte da manhã brincando e correndo na roça. Volta e meia me
deliciava chupando laranjas, mangas, abacaxis e brincando na lama. Já era meio
dia e ouvia uma voz distante chamar meu nome com tom de ordem a ser seguida
“Gabrieeeel”, minha mãe sempre exigia que almoçássemos no horário habitual.
Naquele dia resolvi assistir um pouco
de TV após o almoço. Hora vai, hora vem... Fiquei entediado e resolvi passear
um pouco de bicicleta com os amigos. Eu não sabia fazer muitas manobras e
preferia aperfeiçoar o que eu já sabia, o que eu gostava mesmo era de andar em
alta velocidade, já que não precisava me preocupar com os carros, pois era a
estrada da roça, lugar de sossego.
Cada um tinha a sua “bike”, mas
gostávamos de trocá-las uns com os outros. De vez em quando, alguns amigos a faziam,
já eu preferia ficar com a minha mesmo. Chegando a uma ladeira um tanto enorme
e com uma curva fechada no final, resolvi descer amortecendo a velocidade com
os freios, porém meus amigos, com mais experiência, não utilizavam esse
recurso. Descemos, subimos, fomos para outros lugares e não demorou muito
estávamos nós lá novamente, frente ao perigo.
A mais uma tentativa, fui motivado
por meus colegas a fazer como eles e não usar os freios. Não deu outra, quando
percebi estava com o rosto enfiado na lama e sem poder abrir os olhos, o pedaço
de tronco de goiabeira no meio da estrada me fez desequilibrar e ir de encontro
ao inesperado.
Com o sangue quente não senti tanto,
mas quando lavei o rosto e o sangue esfriou, logo apareceram as dores e começou
a inchar. Meus colegas ficaram preocupados e eu com medo da reação de minha
mãe. No caminho, não sabia se chorava de dor ou pelo medo de sentir outras
dores.
Ao chegar em casa fomos logo para os
fundos, minha mãe estava na casa da vovó, fiquei aliviado. Quando meu pai me
viu, percebeu logo o incidente, minha mãe não demorou muito a aparecer e o meu
coração batia acelerado e o esperado aconteceu.
Minha mãe com um drama único ficou
desesperada de preocupação e começou a me reclamar, obrigou- me a tomar banho.
Ao trocar de roupa senti sono, disseram-me que não poderia dormir e o que eu
temia aconteceu. Em poucos minutos estávamos todos no hospital da cidade, eu
gritando de medo e dor, enquanto o médico espetava as últimas agulhadas e dava
o nó final.
Mal chegamos em casa, o vizinho já
estava a espera para entregar o dinheiro ao meu pai e então eu nunca mais pude
andar de bicicleta.
OLIVEIRA. Gabriel das Neves. Crônica: A última pedalada. Produção orientada pelo professor Euler Jackson Jardim dos Santos em
agosto de 2019 no CEJSP - Centro Educacional Jerosmiro dos Santos Pereira. Povoado de Placa, Barra da Estiva Bahia. Disponível em: https://prosasobreversos.blogspot.com/
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