domingo, 14 de junho de 2020

Poema: Acróstico literário.

Literatura nos exige
intimidade na produção
tempo vai, tempo vem
está tudo no coração.
rápidas são as vozes
acontece sem perceber
todo dia uma leitura
uma forma de prazer.
rima ou prosa, uma conquista
atração dentro de você.

SANTOS. Euler Jackson Jardim. Poema: Acróstico literário.  Ibicoara-BA. Junho de 2020. Disponível em: https://prosasobreversos.blogspot.com/

segunda-feira, 8 de junho de 2020

Memórias literárias: Lembranças do meu tempo de menino.

Se não me falha as lembranças, eu tinha uns cincos ou seis anos de idade, mas lembro-me muito bem do vilarejo em que nasci. Paraguaçu devia ter umas trinta pessoas, lugarzinho simples, de chão de terra batida, uma casinha aqui, outra acolá, tenho muitas saudades daquele tempo.

Lembro como se fosse hoje, meus avós ensinavam meus irmãos e eu a ler e escrever. A gente aprendia os números, fazer conta de cabeça, o “abc”, o nosso nome e todo dia antes de dormir, tínhamos que fazer a leitura da cartinha, lembro-me até hoje da história da cegonha.

Naquele tempo escola era muito difícil, só quem estudava era quem morava no comércio e tinha dinheiro para pagar. Lá em casa, os poucos contos de réis que a gente conseguia com muita labuta eram para botar o “de comer” dentro de casa. Minha leitura era pouca, mas o pouco que eu aprendi serviu muito.

Quando eu completei doze anos de idade, já ajudava meu pai e minha mãe na roça. Buscava lenha para cozinhar a comida, preparava a terra para plantar feijão, mandioca, milho e café, com um arado de burro, trabalhava de enxada, ajudava a raspar e a ralar a mandioca para fazer farinha, mudava o gado de uma manga para outra e prendia no curral no final do dia. Os bezerros tinham que ficar longe das vacas, para a gente poder tirar o leite no outro dia cedo, senão eles mamavam todo o leite e não ficava nada para a gente.

No dia de fazer farinha era muito divertido. Minha mãe acordava cedo para preparar a farofa e meu pai arreava os animais para transportar a mandioca da roça até a casa de farinha. Era muito engraçado, eu e minha irmã íamos de um lado da carga e meus outros dois irmãos do outro, dentro das bruacas.

Chegando à roça, a gente ajudava a colocar a carga de mandioca nos animais e íamos em “cavalos de pau” para a casa de farinha, montávamos em pedaços de paus iguais aos cabos de vassoura e saíamos correndo, brincando de cavalgar.

Na casa de farinha, eu e meu irmão mais velho ajudávamos os nossos pais a raspar a mandioca, tirando a casca mais grossa, depois meu pai e meu irmão faziam girar uma roda que girava o ralador, eu transportava a mandioca já limpa para próximo e minha mãe colocava no ralador, depois tudo ia para uma prensa e escorria uma água que minha mãe armazenava numa bacia para assentar a tapioca no fundo.

A massa crua era sessada numa peneira de palha trançada, depois ia para o forno e meu pai mexia de um lado para o outro até ficar seca, torrada e já estava pronta a farinha. Quando a tapioca se assentava, minha mãe sessava e fazia beiju, a gente comia com manteiga de garrafa, era muito gostoso.

Meu irmão mais novo pegava uns gravetos, espetava em pedaços de mandioca e dizia que eram bois e minha irmã fazia umas bonecas com pedaços de molambo e ficavam os dois brincando no terreiro. Antigamente, a vida da gente era simples, não tínhamos roupa boa ou brinquedos de loja, mas com o pouco que tínhamos a gente era muito feliz. Que saudades de quando eu era novo!


SILVA. Geisa Barbosa. Memórias literárias: Lembranças do meu tempo de menino. Produção orientada pelo professor Euler Jackson Jardim dos Santos em agosto de 2019 na EMAM – Escola Municipal Auto Medrado. Povoado de Capão da Volta, Ibicoara-BA. Disponível em: https://prosasobreversos.blogspot.com/


Crônica: A mancha marrom.

Não se tem muita coisa para fazer no Paraguaçu, além de plantar morango, criar porcos, vacas, galinhas, cultivar verduras e legumes para vender na feira da cidade. Numa manhã de domingo eu estava sentado no sofá assistindo televisão, quando levei um susto com uns gritos, era meu amigo me chamando para jogar futebol no campinho de terra perto de casa. Disse a ele que sim, mas que já estava próximo do meio dia.

Desliguei a TV e ficamos no sofá envolvidos com um joguinho de celular, “Free Fire”, para ser mais claro. A hora passou num instante. Depois de um tempo minha mãe disse que o almoço já estava pronto e que já era hora de almoçar. Chegando à cozinha sentimos aquele cheiro gostoso, comida de fogão a lenha, hum! Delícia. Galinha caipira cozida, porco assado no forno, godó de banana, cortado de mamão, maxixe, palma, arroz, andu, suco de morango, doce de leite, aimpim frito...preparados no capricho.

Lá em casa é assim, minha mãe coloca a comida no prato para todo mundo. Colocou um prato de comida enorme para meu amigo, uma serra. Ele olhou para mim dizendo que não conseguiria comer toda aquela comida, minha mãe disse que se não conseguisse comer tudo pudesse deixar no prato. Como se esperava, comeu toda a carne e deixou quase todo o resto.

Depois do saboroso almoço, ficamos descansando no sofá assistindo um filme sobre cavalos, de repente meu amigo pergunta onde se localiza o banheiro, ensinei logo o caminho. O banheiro fica bem nos fundos da casa, logo após a cozinha e próximo da lavanderia. Casa de fazenda é comprida...

Passados dez minutos, meu amigo retorna ao banheiro e assim o fez por umas cinco vezes. Na última, mamãe estava tomando banho e ele retornou todo tímido dizendo que não estava se sentindo bem e que iria embora. Não demorou muito para perceber a mancha marrom no shortão branco.

E lá vou eu pegar uma roupa limpa e pedir a minha mãe para fazer um chá enquanto ele tomava um banho. Enfim, o motivo da visita não aconteceu e o jogo ficou para outro dia.


FREITAS. Caique Pereira. Crônica: A mancha marrom. Produção orientada pelo professor Euler Jackson Jardim dos Santos em agosto de 2019 na EMAM – Escola Municipal Auto Medrado. Povoado de Capão da Volta, Ibicoara-BA. Disponível em: https://prosasobreversos.blogspot.com/


sábado, 6 de junho de 2020

Poema: O prazer da leitura.

Ler é deslizar na emoção das palavras
É assoviar sem mover os lábios
e dar gargalhadas sem emitir o som.
Ler é chegar em algum lugar sem sair de lugar nenhum.
Ler é ouvir sem escutar a canção
É rir e sorrir
com o coração.

SANTOS. Euler Jackson Jardim. Poema: O prazer da leitura. Ibicoara-BA. Junho de 2020. Disponível em: https://prosasobreversos.blogspot.com/

sexta-feira, 5 de junho de 2020

Crônica: A última pedalada.

Numa manhã normal como as demais, estava eu deitado em minha cama sem pressa alguma para levantar, pois estava de férias escolares. Tomei meu café da manhã como de costume e sai para brincar, única atividade que me interessava no momento. Não sou muito fã de assistir televisão, então preferi sentir a brisa da natureza soprar sobre o meu rosto. Passei a maior parte da manhã brincando e correndo na roça. Volta e meia me deliciava chupando laranjas, mangas, abacaxis e brincando na lama. Já era meio dia e ouvia uma voz distante chamar meu nome com tom de ordem a ser seguida “Gabrieeeel”, minha mãe sempre exigia que almoçássemos no horário habitual.
Naquele dia resolvi assistir um pouco de TV após o almoço. Hora vai, hora vem... Fiquei entediado e resolvi passear um pouco de bicicleta com os amigos. Eu não sabia fazer muitas manobras e preferia aperfeiçoar o que eu já sabia, o que eu gostava mesmo era de andar em alta velocidade, já que não precisava me preocupar com os carros, pois era a estrada da roça, lugar de sossego.
Cada um tinha a sua “bike”, mas gostávamos de trocá-las uns com os outros. De vez em quando, alguns amigos a faziam, já eu preferia ficar com a minha mesmo. Chegando a uma ladeira um tanto enorme e com uma curva fechada no final, resolvi descer amortecendo a velocidade com os freios, porém meus amigos, com mais experiência, não utilizavam esse recurso. Descemos, subimos, fomos para outros lugares e não demorou muito estávamos nós lá novamente, frente ao perigo.
A mais uma tentativa, fui motivado por meus colegas a fazer como eles e não usar os freios. Não deu outra, quando percebi estava com o rosto enfiado na lama e sem poder abrir os olhos, o pedaço de tronco de goiabeira no meio da estrada me fez desequilibrar e ir de encontro ao inesperado.
Com o sangue quente não senti tanto, mas quando lavei o rosto e o sangue esfriou, logo apareceram as dores e começou a inchar. Meus colegas ficaram preocupados e eu com medo da reação de minha mãe. No caminho, não sabia se chorava de dor ou pelo medo de sentir outras dores.
Ao chegar em casa fomos logo para os fundos, minha mãe estava na casa da vovó, fiquei aliviado. Quando meu pai me viu, percebeu logo o incidente, minha mãe não demorou muito a aparecer e o meu coração batia acelerado e o esperado aconteceu.
Minha mãe com um drama único ficou desesperada de preocupação e começou a me reclamar, obrigou- me a tomar banho. Ao trocar de roupa senti sono, disseram-me que não poderia dormir e o que eu temia aconteceu. Em poucos minutos estávamos todos no hospital da cidade, eu gritando de medo e dor, enquanto o médico espetava as últimas agulhadas e dava o nó final.
Mal chegamos em casa, o vizinho já estava a espera para entregar o dinheiro ao meu pai e então eu nunca mais pude andar de bicicleta.

OLIVEIRA. Gabriel das Neves. Crônica: A última pedalada. Produção orientada pelo professor Euler Jackson Jardim dos Santos em agosto de 2019 no CEJSP - Centro Educacional Jerosmiro dos Santos Pereira. Povoado de Placa, Barra da Estiva Bahia. Disponível em: https://prosasobreversos.blogspot.com/

Memória Literária: A festa que me surpreendeu.

A festa de São Pedro era muito esperada na região. Meu amigo e eu fomos a essa festa e ficamos tranquilamente tomando uma bebida, de repente duas moças começaram a olhar para nós e de vez em quando piscava um dos olhos. Falei com o meu amigo para irmos até lá convidá-las para dançar, ele se recusou e então fui sozinho. Convidei a mais bonita e ela aceitou, dançamos e conversamos um pouco, pedi o endereço dela e a dei o meu.
Carta vai, carta vem depois de um mês começamos a namorar. Namorávamos à distância, o único contato que tínhamos era por cartas e depois de um tempo pedi a ela para falar com seus pais que eu queria conhecer melhor a família e para eles poderem me conhecer melhor também. Promoveram logo um almoço, um friozinho logo me veio à barriga.
Eu sabia que a viagem era longa e não quis ir sozinho, chamei meu amigo para ir comigo. Demos bastante ração aos nossos cavalos e ainda levamos um pouco para o meio do caminho, saímos de casa às três da madrugada. Depois de algumas cansadas horas de viagem, enfim chegamos.
Depois de fazer os cumprimentos habituais da cultura da região, apertos de mão firmes e abraços com vários tapinhas nas costas, em seguida, apresentei meu amigo à família e conversamos por mais algumas horas e num instante chegou o almoço.
Mesa arrumada, cheia de pratos gostosos, costelas, frango, lombo, farofa, arroz feijão, couve cortada fininha, abóbora... Sentei ao lado da minha namorada e nem pude sequer beijá-la na mão, pois seu pai era muito bravo com essas coisas. Comemos, bebemos, proseamos, tomamos o café das três, jantamos e na sala eu nem sequer podia sentar próximo da minha amada.
No dia seguinte, já em minha casa fiquei bobo de felicidade e cinco dias depois recebi uma carta dela dizendo que seus pais gostaram de mim e que era um bom partido para um casamento. Ao ler aquelas palavras fiquei emocionado e cada vez mais envolvido. Respondi a carta com muito carinho e um pedido de casamento.
Com o passar dos anos nos casamos e até hoje moramos nesta mesma casa, onde criamos os nossos quatro filhos e estamos ajudando na criação dos netos.

CAIRES. Natália Pereira. Memórias Literárias: A festa que me surpreendeu. Produção orientada pelo professor Euler Jackson Jardim dos Santos em agosto de 2019 no CEJSP - Centro Educacional Jerosmiro dos Santos Pereira. Povoado de Placa, Barra da Estiva Bahia. Disponível em: https://prosasobreversos.blogspot.com/

quarta-feira, 3 de junho de 2020

Memória Literária: De volta para minha terra.

Era final de inverno, quando o meu pai estava ouvindo o rádio na salinha de estar da nossa casinha de quatro águas, na Fazenda Cachoeira Grande. Uma notícia trágica o deixara triste, “Getúlio Vargas se suicidou”, ele disse para a minha mãe e eu com uma voz engasgada.
Naquele tempo, as coisas não estavam indo muito bem, estava faltando roupas e até mesmo o que comer. Eu não experimentava um pedaço de carne seca havia semanas. Tudo estava caro, dizia meu pai. Eu não entendia nada de inflação, mas essa era a palavra mais usada quando ele chegava da feira.
Meus irmãos e eu não podíamos estudar, pois além de não ter escola por perto, tínhamos que trabalhar na lavoura de feijão, arroz, mandioca, milho e café para ajudar no sustento da casa. Os poucos “réis” que o meu pai ganhava, mal dava para fazer a feira da semana e a farinha, não podia faltar na nossa mesa.
Eu tinha somente dez anos de idade, mas me lembro como se fosse hoje. A minha mãe fazia uma farofa deliciosa de “bofe” com arroz, o açafrão deixava a farinha que antes branquinha, amarelada. Não se via muitos pedaços de bofe ou de caroços de arroz, mas comíamos aquilo tudo embaixo do pé de café. Nessa rotina, passávamos a semana inteira.
Nesse vai e vem, de casa para a roça e da roça para casa, a única coisa para brincar eram as bonecas feitas de uma espiga de milho que eu pegava na roça.
A minha mãe era uma artista espetacular. Fazia as nossas roupas com um pano estampado comprado na feira, chamado chita. Um minutinho com uma linha e uma agulha na mão, ela criava e recriava diversos vestidos, saias, blusas, calças para mim e até casacos com outros panos, para os meus irmãos mais velhos.
Um dia, já mocinha, acordei toda ensanguentada. Fiquei com muito medo, mas minha mãe logo me deu uma série de explicações sobre menstruação e, por causa destas benditas regras, tive que usar uns pedaços de pano parecidos com fraldas, durante três ou quatro dias em cada mês. Eu achava aquilo horrível, mas com o passar dos tempos me acostumei.
Com os meus quinze anos de idade, o meu pai já falava em casamento, mas eu não dava “ligança”, quando ele falava desse assunto. Eu até namorava, mas o namoro não era igual os de hoje. Naquele tempo eu ia aos bailes de casamento, nas festas de igreja e, quando os rapazes se interessavam por mim, eles me enviavam bilhetes. A gente conversava e pegava nas mãos uns dos outros, dançávamos forrós ao som da sanfona até o dia clarear.
No outro dia, o meu namorado ia até a minha casa conversar com o meu pai para pedir permissão para namorar comigo.
Depois de muitos anos me casei e vivia andando pelo Brasil a fora procurando trabalho para poder ter uma vida melhor e criar os filhos. Nessa aventura morei em Minas Gerais, São Paulo, Paraná e em outras cidades do interior da Bahia. O engraçado de tudo é que em cada lugar que eu morava eu paria. Tenho filhos registrados em vários lugares.
Como a idade ia chegando, ficamos cansados de tanto trabalhar e viajar. Fizemos uma casinha na Fazenda Cachoeira Grande e daqui eu só saio para o cemitério.


DIAS. Viviane Luz. Memórias Literárias: De volta para minha terra. Produção orientada pelo professor Euler Jackson Jardim dos Santos em agosto de 2016 no CEJSP - Centro Educacional Jerosmiro dos Santos Pereira. Povoado de Placa, Barra da Estiva Bahia. Disponível em: https://prosasobreversos.blogspot.com/