Num sábado à tarde, eu saía da fazenda onde moro para frequentar a catequese numa igrejinha localizada no vilarejo conhecido por Capão da Volta II. O lugar não é muito distante, mas eu sempre prefiro ir de bicicleta, para chegar mais rápido.
Ao retornar para casa, fui logo guardar a bicicleta em um depósito próximo ao cercado onde os animais da família ficam alojados, o lugar não é muito distante de casa. Ao chegar em frente à porteira do cercado, como sempre, estava o jumentinho. Com um tom de graça, cumprimentei-o, ele respondeu soprando com o focinho e fazendo um som engraçado. Passei direto para guardar a bicicleta e no retorno, para a minha surpresa, o “desgramado”, com aqueles dentões, abriu a porteira puxando a corda que a mantinha fechada, e em segundos, estava comendo capim do lado de fora do cercado.
Fiquei com receio dele sair correndo pela estrada, afinal, quem não gosta de liberdade? Fico imaginando como me sinto quando estou entediado dentro de casa e a única coisa que me tira do tédio é ter a sensação de liberdade quando desço a ladeira de bicicleta, apreciando o toque do vento soprando sobre meu rosto. Não deu outra, o fujão seguiu a estrada disparado e jogando as patas traseiras para cima...
Estava no tempo da colheita de cenoura, desesperado encontrei minha mãe lavando-as e perguntei bastante assustado. "Onde está meu pai?" Ela também se assustou com meu desespero e perguntou o que tinha acontecido, eu expliquei rapidamente toda a história, ela falou que estava colhendo o restante das cenouras. Segui em disparada e contei a ele o que tinha acontecido. Rapidamente, saímos correndo à procura do jumento.
Ao pegar o cabresto, percebemos que o danado já não estava mais lá. Preocupamo-nos e fomos procurá-lo. Meu pai procurou pela estrada e eu pelo quintal de casa e para a nossa surpresa, lá estava ele na nossa horta. Em um só grito, chamei o meu pai; pensando não tinha escutado, ameacei correr atrás do animal, mas logo desisti porque painho chegou a tempo.
Como era de se esperar, o burrico estava comendo a horta da minha mãe, por sorte, chegamos a tempo e o estrago foi mínimo. Aproximamos sob ameaças de uma nova fuga, mas o meu pai foi mais rápido, conseguiu laçá-lo, colocar o cabresto e logo ele se rendeu.
Enquanto fui ao banheiro, meu pai o levou de volta ao
cercado para prendê-lo. Já em casa, disse que estava tudo bem e que o danado
não iria fugir novamente, pois havia amarrado a porteira de outra maneira e com
uma corda mais resistente. Aliviado, fui pegar minha bicicleta para distrair um
pouquinho, dar umas pedaladas no entorno da fazenda e ao me aproximar do
cercado, num olhar seguido de susto, percebi que a porteira estava aberta.
SILVA. Abel Alcântara e. Crônica: A fuga do jumento. Produção orientada pelo professor Euler Jackson Jardim dos Santos em agosto de 2021 na EMAM – Escola Municipal Auto Medrado. Povoado de Capão da Volta, Ibicoara-BA. Disponível em: https://prosasobreversos.blogspot.com/
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