quarta-feira, 21 de dezembro de 2022

Crônica: A fuga do jumento.

Num sábado à tarde, eu saía da fazenda onde moro para frequentar a catequese numa igrejinha localizada no vilarejo conhecido por Capão da Volta II. O lugar não é muito distante, mas eu sempre prefiro ir de bicicleta, para chegar mais rápido.

Ao retornar para casa, fui logo guardar a bicicleta em um depósito próximo ao cercado onde os animais da família ficam alojados, o lugar não é muito distante de casa. Ao chegar em frente à porteira do cercado, como sempre, estava o jumentinho. Com um tom de graça, cumprimentei-o, ele respondeu soprando com o focinho e fazendo um som engraçado. Passei direto para guardar a bicicleta e no retorno, para a minha surpresa, o “desgramado”, com aqueles dentões, abriu a porteira puxando a corda que a mantinha fechada, e em segundos, estava comendo capim do lado de fora do cercado.

Fiquei com receio dele sair correndo pela estrada, afinal, quem não gosta de liberdade? Fico imaginando como me sinto quando estou entediado dentro de casa e a única coisa que me tira do tédio é ter a sensação de liberdade quando desço a ladeira de bicicleta, apreciando o toque do vento soprando sobre meu rosto. Não deu outra, o fujão seguiu a estrada disparado e jogando as patas traseiras para cima...

Estava no tempo da colheita de cenoura, desesperado encontrei minha mãe lavando-as e perguntei bastante assustado. "Onde está meu pai?" Ela também se assustou com meu desespero e perguntou o que tinha acontecido, eu expliquei rapidamente toda a história, ela falou que estava colhendo o restante das cenouras. Segui em disparada e contei a ele o que tinha acontecido. Rapidamente, saímos correndo à procura do jumento.

Ao pegar o cabresto, percebemos que o danado já não estava mais lá. Preocupamo-nos e fomos procurá-lo. Meu pai procurou pela estrada e eu pelo quintal de casa e para a nossa surpresa, lá estava ele na nossa horta. Em um só grito, chamei o meu pai; pensando não tinha escutado, ameacei correr atrás do animal, mas logo desisti porque painho chegou a tempo.

Como era de se esperar, o burrico estava comendo a horta da minha mãe, por sorte, chegamos a tempo e o estrago foi mínimo. Aproximamos sob ameaças de uma nova fuga, mas o meu pai foi mais rápido, conseguiu laçá-lo, colocar o cabresto e logo ele se rendeu.

Enquanto fui ao banheiro, meu pai o levou de volta ao cercado para prendê-lo. Já em casa, disse que estava tudo bem e que o danado não iria fugir novamente, pois havia amarrado a porteira de outra maneira e com uma corda mais resistente. Aliviado, fui pegar minha bicicleta para distrair um pouquinho, dar umas pedaladas no entorno da fazenda e ao me aproximar do cercado, num olhar seguido de susto, percebi que a porteira estava aberta.


SILVA. Abel Alcântara e. Crônica: A fuga do jumento. Produção orientada pelo professor Euler Jackson Jardim dos Santos em agosto de 2021 na EMAM – Escola Municipal Auto Medrado. Povoado de Capão da Volta, Ibicoara-BA. Disponível em: https://prosasobreversos.blogspot.com/



Crônica: As malaguetas

Numa manhã de sábado, o sol já se mostrava todo animado, convidando a garotada para as brincadeiras do final da semana. Capão da Volta é um lugar tranquilo, como toda comunidade rural, a maioria das famílias se dedicam a agricultura familiar e cultivam diversos alimentos comuns à mesa de todos. Aos primeiros raios de sol, a garotada já começa quebrando o silêncio e tirando o sossego de quem quer acordar um pouco mais tarde.

Como de costume, eu aproveitava o sol da manhã para me aquecer e adquirir, de graça, a vitamina D. Recomendações médicas. Para isso, eu ficava assentado em um banquinho da praça, observando a criançada se divertindo.

__Você só pode sentir o cheiro e o sabor, nada de olhar! Uma garotinha exclamou com tom de ordem.

As crianças levaram para a pracinha da igreja, os produtos cultivados durante a semana: morango, café, amora, laranjas, banana, abacate, jiló, ervas e temperos, pimentas. Aparentemente estão brincando de acertar o nome dos alimentos apenas usando o olfato e o paladar. Como se divertem aquelas crianças! Fiquei com saudades do meu tempo de menina.

__ Nossa! Lá na minha cidade, só conheço pimenta em molho de Katchup. Comentou sem graça.

Na manhã seguinte, lá estava eu aproveitando o sol de domingo e a diversão continuou. A vítima trouxe uma caixa de bombons para o vencedor, dessa vez era a brincadeira do “passe a bola”. O garoto levou uma bola e uma caixinha de som, dessas que estão na moda. A bola ficava passando de mão em mão e ao parar a música, com quem a bola estivesse sairia da brincadeira e isso repetia até se chegar ao vencedor.

__Você só pode sentir o cheiro e o sabor, nada de olhar! Uma garotinha exclamou com tom de ordem.

As crianças levaram para a pracinha da igreja, os produtos cultivados durante a semana: morango, café, amora, laranjas, banana, abacate, jiló, ervas e temperos, pimentas. Aparentemente estão brincando de acertar o nome dos alimentos apenas usando o olfato e o paladar. Como se divertem aquelas crianças! Fiquei com saudades do meu tempo de menina.

__Vocês precisam fornecer algumas dicas…preciso saber as características! Disse o garoto.

__ É uma especiaria vermelha, docinha e muito cheirosa! Você vai amar, tem um sabor muito marcante… Respondeu a garotinha sapeca e com tom de malícia.

__ Nossa! Lá na minha cidade, só conheço pimenta em molho de Katchup. Comentou sem graça.

Na manhã seguinte, lá estava eu aproveitando o sol de domingo e a diversão continuou. A vítima trouxe uma caixa de bombons para o vencedor, dessa vez era a brincadeira do “passe a bola”. O garoto levou uma bola e uma caixinha de som, dessas que estão na moda. A bola ficava passando de mão em mão e ao parar a música, com quem a bola estivesse sairia da brincadeira e isso repetia até se chegar ao vencedor.

Após mastigar os bombons, as crianças começaram a cuspir ao mesmo tempo por diversas vezes e saíram correndo em direção a torneira da vizinha.

__Agora é a minha vez! Gritou um.

__Coloque a venda nos olhos! O outro acrescentou.

Uma criança que está passeando na comunidade, aparentemente veio da capital, pois a forma de falar era bem característica e também não conhecia a malícia nas brincadeiras dos meninos daqui. Coitado. Pelo que vejo naquela na mão da garotinha, será mais uma vítima.

Foi então que, sem mais ideias, eles ofereceram pimentas malaguetas para aquele menino experimentar durante a brincadeira. É claro, ele não sabia do que se tratava. A criança estava de olhos vedados e aparentemente não conhecia a especiaria na forma natural.

__Vocês precisam fornecer algumas dicas…preciso saber as características! Disse o garoto.

__ É uma especiaria vermelha, docinha e muito cheirosa! Você vai amar, tem um sabor muito marcante… Respondeu a garotinha sapeca e com tom de malícia.

Assim que ele começou a mastigar, tirou a venda dos olhos, cuspiu por diversas vezes e começou a gritar: _Água, água, água!

Partiu em direção à torneira no quintal da vizinha e voltou todo vermelho. A garotada não parava de gargalhar. Coitado! Em breve iria saber o que comeu. Depois de todo o incidente, não parava de cuspir.

O vencedor por sua vez, recebeu o prémio e para a sua surpresa, ao abrir a caixa encontrou um bilhete junto aos bombons de chocolate que dizia: “Você deverá dividir os bombons com todos os outros participantes”. O menino leu com voz de indignação.

Como de costume, eu aproveitava o sol da manhã para me aquecer e adquirir, de graça, a vitamina D. Recomendações médicas. Para isso, eu ficava assentado em um banquinho da praça, observando a criançada se divertindo.

__Agora é a minha vez! Gritou um.

__Coloque a venda nos olhos! O outro acrescentou.

Uma criança que está passeando na comunidade, aparentemente veio da capital, pois a forma de falar era bem característica e também não conhecia a malícia nas brincadeiras dos meninos daqui. Coitado. Pelo que vejo naquela na mão da garotinha, será mais uma vítima.

Foi então que, sem mais ideias, eles ofereceram pimentas malaguetas para aquele menino experimentar durante a brincadeira. É claro, ele não sabia do que se tratava. A criança estava de olhos vedados e aparentemente não conhecia a especiaria na forma natural.

Assim que ele começou a mastigar, tirou a venda dos olhos, cuspiu por diversas vezes e começou a gritar: _Água, água, água!

Partiu em direção à torneira no quintal da vizinha e voltou todo vermelho. A garotada não parava de gargalhar. Coitado! Em breve iria saber o que comeu. Depois de todo o incidente, não parava de cuspir.

O vencedor por sua vez, recebeu o prémio e para a sua surpresa, ao abrir a caixa encontrou um bilhete junto aos bombons de chocolate que dizia: “Você deverá dividir os bombons com todos os outros participantes”. O menino leu com voz de indignação.

__Todos têm que abrir e comer ao mesmo tempo! Disse o visitante.


RAMOS. Yasmin de Oliveira. Crônica: As malaguetas. Produção orientada pelo professor Euler Jackson Jardim dos Santos em agosto de 2021 na EMAM – Escola Municipal Auto Medrado. Povoado de Capão da Volta, Ibicoara-BA. Disponível em: https://prosasobreversos.blogspot.com/