domingo, 16 de maio de 2010

Resenha: filme "Herry Potter e a Pedra Filosofal."

O filme “Harry Potter e a pedra filosofal” é uma adaptação do primeiro livro da série Harry Potter de J.K. Rowling. Dirigido por Chris Columbus em 2001, nos Estados Unidos da América e tem duração de 152 minutos de pura fantasia e aventura. A diegese se passa em dois ambientes centrais: a casa dos tios de Harry Potter e a Escola de Feitiçaria e Magia de Hogwarts, embora as grandes aventuras ocorram neste último. É possível perceber a existência de ressentimentos que norteiam as relações. Como ser bruxo(a) para as famílias era algo de orgulho, a tia de Harry o desprezava e o maltratava, pois sua irmã, mãe de Harry, era bruxa e possuía grandes poderes e bondade, sendo por isso, mais admirada pelo seus pais. Esse sentimento de rejeição foi brutalmente externado e direcionado para o sobrinho, justamente por estes conhecerem o poder ao qual Harry estava destinado. Humilhado e desprezado pela atual família, vivendo em uma casa confortável, sem poder desfrutar deste conforto, Harry não imaginava que fosse dono de uma grande fortuna deixada pelos seus pais, nem conhecia sua verdadeira origem e identidade. Essa busca pelo verdadeiro “eu” começou a se efetivar no seu aniversário de 11 anos, período que corresponde justamente com o início da adolescência. Com essa transição, Harry começou a descobrir e a enfrentar os problemas das relações humanas. Harry vive em mundos paralelos, entre o presente e o passado, o real e o fantástico, o rejeitado e o conhecido por todos, o frágil e o herói. Essa mescla de sentimentos antagônicos, cercado de incertezas, curiosidades e desejos deixa claro a alusão à realidade psíquica dos adolescentes, tornando-se um parâmetro para os jovens do século XXI que buscam o real, a autoconfiança no grupo em que vive, onde ser diferente faz parte da magia da adolescência e da construção da identidade e da autonomia. A história resgata a noção de segurança que os adolescentes necessitam para prosseguir em suas decisões. O aparecimento de Hagrid, um gigante enviado para guiá-lo e levá-lo ao mundo de Hogwarts, permite concluir que apesar de terem consciência de que as regras são necessárias para seu direcionamento, os jovens têm constante desejo de quebrá-las e por vezes se sentem impotentes para enfrentar os problemas sozinhos. Um fato interessante de ser abordado diz respeito à relação entre o bem e o mal expresso na analogia das varinhas. A Fênix, varinha destinada a Harry Potter é irmã da varinha que o feriu, a varinha de Valdmort, cujo nome não é quase pronunciado. Esse fato permite uma análise do poder que a palavra comporta principalmente no mundo da magia, onde tudo pode se tornar realidade por meio de palavras. A relação de ter e poder é expressa também na afirmação de Harry “Eu fico com tudo” quando uma senhora ofereceu-lhes doces, a reação de Harry frente à possibilidade de comprar mais do que o necessário, faz refletir sobre os momentos de privações que o personagem passou, no qual o ter o fez se sentir importante naquele momento. A partilha dos alimentos com o amigo que também passou por privações fez nascer uma amizade sólida que seria questionada logo depois por Malfoy, garoto prepotente e possivelmente rico, que tinha como valores o desprezo pelos mais humildes e fracos. No entanto Harry Potter mostra que possui discernimento entre o bem e o mal ao afirmar que podia ver sozinho quem era a pessoa errada. Outra mostra do discernimento se dá quando Voldmort tenta convencê-lo de que poderia se aliar a ele e em troca teria os seus pais de volta e ele se recusa, mesmo sendo este o seu desejo mais profundo. O filme mostra um ambiente real para nossos jovens: a escola, o medo do desconhecido, a busca pela confirmação da identidade e a aceitação pelo grupo. Em Hogwarts, ao adentrá-la, os jovens passavam por um processo de formação de grupos, conforme a identidade, a afinidade e os pensamentos de cada um. O objetivo da escola de Hogwarts é bem definido: formar bruxos poderosos, capazes de realizar as magias necessárias para a sobrevivência dos mesmos. Apesar de perceber uma estrita relação ou uma grande identificação dos jovens que assistem ao filme e os personagens, há uma crítica implícita em relação ao real objetivo de nossas escolas, visto que muitas unidades escolares não priorizam em suas aulas a vida prática e por isso, muitas vezes os alunos não veem sentido naquilo que a escola pretende ensinar. A obra não se fecha. O enredo aponta para vários conhecimentos: o escolarizado, explícito em Hermione; o lógico em Ronald Weasley; e o internalizado pelas experiências vividas em Harry Potter, valorizando-os em todas as diferenças individuais e mostrando a importância dos mesmos para o bem coletivo. Quanto à estrutura, percebe-se que os capítulos foram construídos seguindo uma lógica de início, meio e fim, o que causa em quem o assiste uma constante sensação de euforia pelo fato de o mal ser sempre punido, diferentemente de outras obras em que tal fato só ocorre ao final da história. O título do filme “Harry Potter e a pedra filosofal” provoca a reflexão sobre o que seria e qual a importância desta pedra tão desejada na diegese. É possível analisá-la como a busca incessante do conhecimento, que uma vez adquirido torna-se historicamente imortal, como o caso de tantos escritores da literatura e de tantas outras áreas do conhecimento. Por reconhecer que o conhecimento, assim como a palavra, implica poder, as forças do mal a desejam. A autora foi preconceituosa ao classificar os personagens dois blocos distintos: os bruxos e os trouxas, sendo o primeiro detentores da magia, do fantástico, enquanto o segundo, meros mortais, seres engraçados e limitados. Essa distinção pode, ainda que inconscientemente, incutir nos jovens o desejo de ser aquilo que ele jamais poderá ser, gerando um sentimento de frustração frente ao mundo real. No entanto, a genialidade da autora está em realizar uma trama bem tecida entre o real e o fantástico que acaba por encantar aos jovens. Elementos como a superação do medo, a dualidade de emoções, os desejos, a busca, as superações, as cenas engraçadas, as demonstrações de amizades, constituem-se chamarizes para a atenção dos jovens pós-modernos, tornando a obra uma referência para eles, quer queira ou não os críticos mais mordazes.

Simara Carreiro, Adriana Amorim, Euler Jackson Santos, Márcia Almeida, Gilma Lacerda & Carlos André Oliveira. Herry Potter e a Pedra Filosofal. Barra da Estiva-BA. Maio de 2010. História em Quadrinhos. Disponível em: https://prosasobreversos.blogspot.com/

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